sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Um belo dia ...

... para apresentar um seminário sobre políticas culturais. Se dito com uma dose elevada de ironia: Minha matéria preferida da faculdade. Pois é, mas realmente estava um belo dia, 7:30h da manhã e o sol já brilhava e ardia como se fossem 13:00h de uma tarde de um verão bem quente, do jeito que eu gosto, sem dose nenhuma de ironia, mas de pura verdade, eu amo o verão. Ahhh o verão... Estava um céu azulzinho, passarinhos cantarolando felizes, uma manhã de final de primavera maravilhosa, linda, divina. Aqueles dias que você olha tudo a sua volta e agradece a Deus por existir e poder contemplar o milagre da natureza.

Olhei aquilo tudo e pensei triste: “Tenho um seminário pra apresentar na faculdade e depois tenho que viajar pro Rio. Queria tanto ter tempo para ir à praia, coisa que ainda não o fiz, morando tão perto aqui em Rio das Ostras.” Em vez de praia, sol, protetor, água de coco, canga com areias irritantes, fui eu apresentar o trabalho, triste por não poder aproveitar o dia, mas feliz porque esse tempo me deixa muito disposta e com um humor maravilhoso. Enquanto caminhava pra faculdade fui agradecendo por mais um dia de vida, pelas belezas da natureza, pelo pão de cada dia, por ter uma família não tão perfeita, mas que sou muito amada e os amo também, por ter amigos, por ter passado no vestibular, por ser uma pessoa perfeita (perfeita no que se diz, de não precisar de necessidades especiais), agradeci por ter me dado força e coragem no dia anterior, até pela saudade que sinto de tudo e todos. Apesar dos pesares. Aquela manhã maravilhosa me fez esquecer os momentos de tensão da tarde e noite do dia anterior, no qual não havia energia na minha casa desde 13:00h da tarde, faltei aula pra dormir, pois não estava afim de ir fazer um trabalho valendo apenas meio ponto na aula de literatura, apesar de saber que esse bendito meio ponto poderá me fazer falta no final do semestre, mesmo assim me entreguei a preguiça, ao sono e minha cama fofinha, quentinha e aconchegante. Adormeci depois do almoço, como quem se entregava a um dos desejos mais sórdidos e proibidos, numa tarde de aula, sempre tem um sabor maravilhoso. Acordei com trovoadas, relâmpagos e raios, que anunciavam uma chuva daquelas, típicas do verão, meio assustada e sonolenta procurei pelo meu celular e vi que já marcavam 18:00h, percebi que a energia ainda não havia chegado, o sol já tinha partido, no céu havia muitas nuvens carregadas que o tornava escuro, não a ponto de já estar de noite, mas tornou aquele final de tarde meio macabro. Então resolvi ir atrás de alguém para não ficar sozinha. A porta estava trancada e ouvi o barulho das meninas no prédio que estavam saindo para ir à aula, abri a porta no desespero de conseguir falar com elas, quando a porta se abriu a Gleici estava no corredor, a minha única reação foi correr pra conseguir um abraço, e rindo da cena engraçada ela me abraçou e disse: “Calma, to aqui.” O pavor de estar naquele prédio sozinha era imenso, sem energia, sem ninguém. Logo depois a chuva veio com força, mostrando toda sua força, com pingos que matavam uma formiga afogada de tão densos que eram. A mãe natureza começou o seu show, ventos, muita água e raios que caiam por toda a extensão de grama da redondeza. Eu e as meninas ficamos na varanda de trás observando toda aquela água cair. Após 20 minutos de muita chuva, cessou tudo, a grande quantidade de chuva, os raios e os trovões. O céu clareou e apenas chuviscava, as meninas precisavam ir a aula e eu fiquei sozinha na casa, sem luz ainda. Foi quando resolvi mandar uma mensagem pra Aline pedindo que ela não demorasse, pois estava sozinha e sem energia. Já era de noite e logo escureceria de vez, me dava pavor a cada minuto que passava e nada da Aline chegar, tinha um trabalho pra fazer, mas nem isso poderia ser feito, pois meu notebook estava com a bateria descarregada e tudo que precisava para o trabalho estava lá. Sentei na cama e fiquei escutando música pra distrair na espera ansiosa da Aline, passaram-se 1 hora da mensagem e nada da Aline, resolvi jantar, já estava tudo escuro e voltei pra cama e fiquei lá quietinha, até que deitei e adormeci novamente. Cochilava e acordava de 20 em 20 minutos, ouvia o vento na porta e me assustava, ouvia passos no prédio e ninguém chegava na minha casa, ouvia o latido do cachorro do vizinho e cochilava de novo, acordava entre um barulho e outro. Já não tinha mais coragem de levantar dali. É eu tenho muito medo de escuro. Acordei com o barulho da tranca e a voz da Gleici ao telefone, pensei: “Graças a Deus ela chegou.” Nunca nesses sete meses longe de casa, havia sentido tanta falta da minha mãe, da minha irmã e dos amigos, em especial da minha melhor amiga. Me senti muito sozinha naquele momento, percebi que ainda estou muito deslocada, não consigo me desprender do Rio, controlei a vontade de chorar, só iria aumentar o desespero e por tão pouco não valeria a pena me estressar, afinal já era quinta feira e no outro dia veria todos eles. Pensei em ligar pra todos, inclusive pro meu passado remoto que sempre dá um jeito de aparecer pra me lembrar que está vivo. Nesse ataque de mulherzinha resolvi mandar uma mensagem malcriada pra Aline (não só por ela ter me deixado ali sozinha, ela não tinha nada a ver com meu medo, mas também porque pensei na solução de ir fazer o trabalho na casa do Renan): “Qual foi a parte do não demora por favor que vc não leu? Eu fiquei sozinha aqui no escuro. A energia ainda não chegou e preciso fazer o trabalho, cadê o Renan?” Passaram se 20 minutos e nada de ela mandar sinal de vida, de fumaça ou uma mensagem psicografada. Liguei, liguei, liguei e uns 40 minutos depois ela chegou, enfim, xinguei-a um pouquinho e depois ficou tudo bem.

Fomos atrás do bigode porque queríamos nossa luz de volta e ele só dizia: “Já liguei pra Ampla três vezes e até agora nada”. Todas do prédio no reunimos no hall pra ficar fofocando os problemas do prédio, da rua e falando muito mal do português, dono de quase todas as casas da rua, porém mais mão de vaca que ele não existe. Até que resolvemos nós mesmas ligar pra Ampla e em menos de 20 minutos a Ampla chegou para salvar nossas vidas, a energia voltou e o estresse de todas as meninas do prédio cessou. Imagine 10 meninas reclamando e fofocando numa noite, sem luz e chuvosa. Foi bom, porque raramente paramos em meio a nossa rotina corrida da faculdade para nos reunirmos e só assim podemos conversar um pouco mais e até socializar, um pouco trágico, mas cômico.

Assim que a energia voltou todas foram para seus devidos “apErtamentos”, logo fui tomar meu banho quentinho pra relaxar e começar meu trabalho, ainda vi o documentário que deu base para o filme Tropa de Elite, e depois ainda entrei na internet, na área de serviço, porque é o único lugar que a internet pega. Haha E fui ficando e de tanto tempo sentadas no chão, minha bunda e da Aline já pedia socorro e a idéia de colocar o colchão na área era tentadora, o fizemos, Aline foi dormir e ainda continuei por ali, terminando o trabalho, vendo uma coisa e outra na internet e conversando no MSN. Já eram 5:30h da manhã a hora que terminei o trabalho e precisava dormir para estar 8:00 horas na faculdade para reunião do grupo do seminário, adormeci por ali com preguiça de voltar para o quarto e quando o celular despertou as 7:30h, percebi que estava no sol quente, mas o cansaço não tinha me deixado acordar, o sol brilhava muito forte, batia todo na área, sob o meu colchão e o meu corpo, a vista doía de tentar abrir o olho, estava um calor gostoso, mas eu realmente precisava me levantar. E foi assim que esqueci de todo o pavor do dia anterior e percebi que realmente existem coisas tão grandiosas que somente Deus é capaz de ter feito e poder nos dar a honra de desfrutarmos suas maravilhas, assim é fácil perceber que a vida é linda de viver, que amigos não se comparam e que um dia no escuro não mata ninguém.

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